Cubango, União da Ilha e Porto da Pedra foram destaque no primeiro dia da Série Ouro

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Foto: Allan Duffes e Nelson Malfacini

EM CIMA DA HORA

Primeira escola a desfilar na abertura dos desfiles da Série Ouro, a Em Cima da Hora apresentou a releitura do enredo “33 – Destino Dom Pedro II” apresentado em 1984. O tema teve fácil entendimento e a leitura plástica pode ser facilmente identificada na maioria das composições visuais. O cortejo retratou a dificuldade e as peculiaridades dos vagões do antigo 33, que saía de Japeri em direção à Central do Brasil. Cada elemento e estereotipo do cidadão carioca encontrados nos trens da cidade foram retratados.

O conjunto de fantasias foi um dos pontos altos do desfile. Destaque para a ala 9 “Paixão pelo futebol”, bastante volumosa. A ala 10 “Vagão feminino”, trouxe um lindo estandarte nas mãos. Já a ala dos ciganos sacudia a saia com muito vigor e gerou um efeito interessante visto de cima. Contudo o conjunto pecou pela simplicidade das formas e de materiais ao apresentar costeiros e golas simplórias. Por outro lado, as fantasias eram claramente leves e ajudavam os brincantes a evoluir.

Foto: Allan Duffes e Nelson Malfacini

Destaque para a primeira alegoria “Embarque no famoso 33”, representando o trem do enredo. Toda de azul e com rodas grandiosas, que ao mesmo tempo eram um relógio e teve um acabamento mais apurado que as demais. De um modo geral, faltou acabamento nas alegorias, principalmente no chão das partes superiores dos carros onde se percebiam as madeiras. Na primeira, um simples pano cobria todo o teto, porém o tecido estava amassado e mal colocado. No segundo carro “Baldeando por aí”, que narrava o vai-e-vem dos passageiros entre um transporte e outro, a parte traseira foi insuficiente ao trazer um tecido apenas pintado cobrindo a parte final da alegoria que não contou com nenhum adereço ou escultura.

ACADEMICOS DO CUBANGO

Um show de criatividade e bom gosto, assim pode ser definido o conjunto de fantasias da Acadêmicos do Cubango na primeira noite de desfiles da Série Ouro. Porém, o capricho visto nas alas não se repetiu nos carros. Todos passaram com problemas de iluminação, além de falhas no acabamento, o que compromete a luta pelo título e o tão sonhado acesso ao Grupo Especial. Apresentando o enredo “O amor preto cura: Chica Xavier, a mãe Baiana do Brasil”, a verde e branco homenageou a atriz Chica Xavier e terminou o desfile com 54 minutos.

Foto: Allan Duffes e Nelson Malfacini

O carnavalesco João Vitor Araújo foi o responsável pelo tema que levou para Avenida quatro setores, não focando apenas na lista de papéis que Chica desempenhou no teatro, no cinema e TV, mas sim tendo como eixo o principal o seu papel central de mulher preta inserida em uma sociedade machista e racista. As alegorias e principalmente as fantasias conseguiram passar com clareza a história que era contada.

O primeiro setor retratou a terra natal de Chica Xavier, a Bahia. Foi possível observar o entrecruzamento de elementos do catolicismo popular com o culto aos orixás. O segundo setor passou pelas conquistas no mundo das artes cênicas e o terceiro retratou a luta da atriz pelo acesso à educação formal, até que o último finalizou com uma mensagem de respeito e tolerância, simbolizando seu amor infinito e que transcende a vida terrena.

Alegorias e adereços foi sem dúvidas, o quesito mais prejudicado. A primeira alegoria trouxe elementos do catolicismo popular com o culto aos orixás e passou completamente apagada. O segundo carro, que representava as artes cênicas, também passou apagado por quase toda a Avenida, porém, acendia em frente a cabine dos jurados. O terceiro carro também passou apagado. Além dos problemas com iluminação, o acabamento precário foi visto em todas as alegorias, no carro três a parte de cima tinha alguns ferros aparentes.

A bateria da escola comandada por Mestre Demétrius Luiz e formada por 220 ritmistas, representou os Griôs e levantou a Sapucaí por onde passou. A rainha Mariane Marinho e a madrinha Maryanne Hipólito esbanjaram beleza, simpatia e muito samba no pé, próximo ao setor 10. As musas sambaram ao lado do prefeito Eduardo Paes, dando um show e arrancando muitos aplausos das arquibancadas.

UNIDOS DA PONTE

Terceira escola a pisar na Marquês de Sapucaí na primeira noite de desfiles da Série Ouro, a Unidos da Ponte apresentou um desfile irregular, alternando bons e maus momentos. Com problemas de evolução e erro na apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Emanuel Lima e Camyla Nascimento, a escola meritiense atravessou a pista em 56 minutos, um a mais que o permitido no regulamento. Outrora criticado, o samba da escola apresentou desempenho satisfatório.

O desfile começou com certo atraso, devido ao acidente ocorrido na dispersão da Em Cima da Hora, o que pode ter causado um certo esfriamento nos componentes. Em seu esquenta, a escola relembrou sucessos, como “Oferendas” e “Eles verão a Deus”.

Foto: Allan Duffes e Nelson Malfacini

Com o enredo “Santa Dulce dos Pobres – O anjo bom da Bahia”, a azul e branco propunha contar a história de Irmã Dulce, baiana canonizada recentemente pela Igreja Católica. Ao longo do desfile, o tema mostrou uma certa dificuldade de compreensão, com algumas alas, sobretudo a partir do segundo setor, dando um certa “embolada” no enredo, perdendo um pouco da linearidade da história.

As alegorias de forma geral, apresentaram bom nível, sobretudo se contrastadas com o último desfile em 2020. Ainda assim, algumas falhas de acabamento podiam ser notadas na pista. A bateria comandada por mestre Branco Ribeiro, representou Santo Antônio, de quem Irmã Dulce era devota. Os ritmistas estavam com uma roupa de fácil leitura e comunicação com o público, devido a popularidade do santo. Ao longo da Avenida, na realização de uma das bossas, era lançada uma “chuva de fogo” no meio dos ritmistas.

UNIDOS DO PORTO DA PEDRA

A vermelho e branco foi a primeira da noite em que as bandeirinhas começaram a tremular na arquibancada. Muito esperada por ter um dos melhores sambas da safra, o Tigre apresentou alegorias de destaque, uma comissão de frente com coreografia forte e de marcante caracterização, além do destacado 1º casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rodrigo e Cintya. Mas, a iluminação do abre-alas, que passou apagado em todos os módulos, deve fazer com que perca décimos preciosos. Com o enredo “O caçador que traz alegrias”, a agremiação de São Gonçalo foi a quarta a desfilar da noite, encerrando seu desfile com 55 minutos.

O desfile da Unidos do Porto da Pedra foi marcado por soluções e elementos alegóricos de fácil entendimento, mas o carro abre-alas “Mata virgem deixa serenar”, que trazia seu símbolo como Odé Kayodé, o ser mais puro e profundo das florestas, passou em todos os módulos apagado. Destaque para o terceiro carro alegórico: “Legado de Mãe Stella”, apresentando a homenageada, mulher negra, determinada, reservada de olhar sereno. Nela, estava presente a velha-guarda, “os griôs”. Como surpresa, a alegoria tinha o efeito de soltar balões e apresentava referências à paixão de Mãe Stella aos livros com algumas frases da mãe de santo.

Foto: Allan Duffes e Nelson Malfacini

Mestre Pablo, comandante da bateria Ritmo Feroz, veio fantasiado de Tigre, devidamente maquiado, inclusive, chamando atenção pela beleza da caracterização. Os ritmistas vieram representando os “Ogãs”, responsáveis em zelar pelo andamento do Xirê, os cuidados dos iniciados, a comunicação entre zeladores, Iaôs e os Orixás. A rainha Tati Minerato, que interagia bastante com o público e era lembrada em alguns momentos pelo intérprete Pitty de Menezes, que estava fantasiado de “Agbara dos Ogãs”. Wantuir, com passagem marcante pela escola como cantor, esteve no desfile próximo ao carro de som.

UNIAO DA ILHA DO GOVERNADOR

Rebaixada em 2020, a União da Ilha do Governador deixou claro a vontade de retornar ao Grupo Especial no ano que vem. Na madrugada desta quinta-feira (21), a tricolor insulana impressionou com enormes e bem acabadas alegorias. Outro destaque positivo da apresentação foi a Comissão de Frente, que se dividiu em várias partes e não cometeu erros. Ao fim do desfile, a Ilha pecou na evolução e teve que correr para fechar o desfile com 54 minutos. A bateria sequer fez toda apresentação no último módulo.

A primeira parte do desfile apresenta o início da história de Nossa Senhora Aparecida e do milagre do escravo Zacarias. O mesmo havia fugido do patrão, foi capturado e acorrentado. Quando foi levado de volta à fazenda, parou diante da imagem e as correntes se quebraram, tornando-se o primeiro milagre da Santa. Toda a parte inicial do desfile traz em destaque a cor vermelha, que representa o sangue dos escravos derramado no Brasil.

Foto: Allan Duffes e Nelson Malfacini

A fantasia das baianas, “Mãe Preta”, chamou atenção não só pela variedade de cores e beleza, mas também pela riqueza de detalhes ao misturar a imagem de Nossa Senhora com Oxum. A primeira alegoria, “O Milagre de Zacarias”, como o nome diz, trouxe a história do escravo com a Santa. O carro abordou na parte da frente a pesca no Rio Paraíba do Sul, onde foi encontrada a imagem, moldada em terracota. O abre-alas tinha as cores vermelha e dourada como predominantes, que tinha na parte traseira um imponente palácio, símbolo da conquista, liberdade e dignidade. Os destaques vestiam fantasias da realeza e exuberância africana, representando os guerreiros da fé, pescadores e negros livres.

A atriz Cacau Protásio como Nossa Senhora chamou a atenção do público na Sapucaí. Os passistas mostraram samba no pé com fantasias leves representando Oxum. A rainha Juliana Souza interagiu com o público, sambou e mostrou o canto na ponta da língua. A “Baterilha”, que veio com roupas em bege representando o Candomblé, também deu show com coreografia ajoelhada e bossas com sino de igreja.

UNIDOS DE BANGU

A vermelho e branco homenageou o contraventor Castor de Andrade, no enredo “Deu Castor na cabeça”, assinado pelo carnavalesco Marcus Paulo, sendo a sexta escola a cruzar a Passarela do Samba na primeira noite de desfiles da Série Ouro. No geral, a apresentação foi bastante irregular, desfilando já com o nascer do dia, o que prejudicou a harmonia, visto que muitos componentes apresentavam cansaço. A vermelho e branco da Zona Oeste terminou sua apresentação com 58 minutos, o que fará com que seja penalizada em três décimos.

O carnavalesco optou por uma narrativa de fácil compreensão. O primeiro setor mostrou o bairro de Bangu, representado no primeiro carro, passando pelas ações de Castor de Andrade e tudo que ele fez pela comunidade até se tornar lenda para os moradores. O segundo setor mostrou seu amor pelo Bangu Atlético Clube e o último setor foi uma homenagem à Mocidade Independente de Padre Miguel, a grande paixão. O carro que fechou o desfile tinha a cor verde predominante, além do símbolo maior da escola, a estrela guia.

Foto: Allan Duffes e Nelson Malfacini

Apesar da homenagem emocionar em alguns momentos, a Unidos de Bangu se apresentou com lentidão excessiva por quase toda Avenida, muito por conta da evolução arrastada da Comissão de Frente. No final, restou a escola correr, o que causou buracos em frente a última cabine de julgadores. O primeiro mestre-sala, através de uma maquiagem caprichada, estava representando o próprio bicheiro.

O conjunto alegórico também se mostrou irregular ao longo do desfile e com alguns problemas de acabamento. O pede passagem trouxe algumas paixões de Castor de Andrade, como o jogo do bicho e a Mocidade. O led da estrela principal passou apagado e o gerador estava à mostra. A primeira alegoria, intitulada “Palpite certo! Do aspecto rural para o industrial”, apresentou problemas de acabamento em alguns dos animais, a segunda alegoria, “Bangu Atlético Clube, suas suas história , sua glória”, trouxe uma belíssima escultura do homenageado, bem fiel às suas características. Já a última representou a paixão de Castor pela Mocidade, no geral, as alegorias foram de fácil leitura.

Os ritmistas comandados por Mestre Léo Capoeira representaram o Clube do Bangu, vestidos nas cores do time. Os 232 ritmistas realizam uma bossa ao ritmo de uma bandinha, encantando o público. Wenny Isa, irmã de da cantora Lexa, fez sua estreia à frente da bateria.

ACADEMICOS DO SOSSEGO

A Acadêmicos do Sossego encerrou a primeira noite de desfiles da Série Ouro já com o dia claro trazendo alegorias e fantasias em sua maioria com bom acabamento e muito bom gosto no uso das cores. A evolução foi bastante fluida, sem correrias e sem muitas interrupções, com 48 minutos de desfile a bateria de Mestre Laion já havia realizado sua apresentação no último módulo o que facilitou com que a escola terminasse sua apresentação brincando carnaval nos últimos metros de pista.

Como ponto negativo, uma das alas, “Eu não Largo da Batalha”, trouxe componentes com roupa de baixo que não eram fantasias. O canto da agremiação também foi tímido, talvez justificado pelo cansaço gerado pelo atraso nos desfiles. Com o enredo “Visões Xamânicas”, a azul e branco encerrou o primeiro dia de desfile fechando a apresentação com 53 minutos.

O desfile aconteceu bem depois do que estava programado devido aos atrasos. Talvez isso possa ser levado em conta, mas o canto do samba foi tímido no geral, principalmente em relação às primeiras alas. Depois do segundo carro houve uma melhora com destaque para a ala “Cantos de esperança”, e “Promoverá visões da nova terra”.

Foto: Allan Duffes e Nelson Malfacini

A escola trouxe para a Sapucaí uma saga épica imaginada entre o presente e o futuro evocando um alerta de antigas profecias xamânicas de que a humanidade se encontra no colapso do planeta provocado por um sistema de ambição e consumo. A fábula produzida pelo carnavalesco André Rodrigues chegou de forma clara a quem assistiu ao desfile, misturando realidade e ficção e deixando uma mensagem de preservação da natureza.

Os elementos alegóricos seguiram a lógica das fantasias e apresentaram uma sequência de cores bastante condizente com a temática do desfile. O carro Abre-Alas “Devoração do mundo” mostrou a primeira visão, apresentada pelos Xapiris ao pajé, que é a Terra em processo de destruição.

Um dos compositores, Marcelo Adnet, estava em êxtase no final do desfile cantando o samba e pulando junto com o presidente Hugo Júnior. A ala polinizadores traziam um véu no esplendor que dava um bonito efeito de movimento. Na bateria de Mestre Laion, em um momento, os ritmistas abriam um espaço na pista e os indígenas que vinham logo depois representando guardiões, simulavam uma batalha com escudo e lança.

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