
Junto à família, que reencontrou na última semana após dois anos distante, o motorista Robson Nascimento Oliveira cultiva duas paixões no Brasil das quais não se esqueceu enquanto esteve preso injustamente na Rússia: A Beija-flor de Nilópolis e o Flamengo, cujos brasões estão gravados em uma tatuagem da qual se orgulha. As instituições, assim como toda a população brasileira, acolheram Robson no retorno ao país natal após o fim da detenção, iniciada em março de 2019, por portar substância proibida em território russo — um medicamento que pertencia à família de um jogador de futebol, para quem trabalhava.
Enquanto o time rubro-negro recebeu o profissional em sua sede na Gávea, Zona Sul do Rio, a escola de samba azul e branca fez o mesmo em sua quadra, em Nilópolis, e aproveitou a ocasião para incluir Robson entre as personalidades que desfilarão em seu próximo Carnaval.
O convite ao motorista, prontamente aceito por ele, foi feito na última quarta-feira (12), pelo presidente Almir Reis. Na ocasião, o motorista foi saudado por integrantes da escola e vivenciou a honra de ser apresentado ao pavilhão da Beija-flor pelas mãos da porta-bandeira Selminha Sorriso, com proteção do mestre-sala Claudinho. O momento foi marcado pela emoção de quem reencontra um grande amor.
Robson, que, antes do episódio na Rússia, costumava frequentar a quadra da Deusa da Passarela e chegou a comemorar um dos campeonatos da escola junto com a comunidade, numa quarta-feira de Cinzas, comentou sobre a sua emoção:
“Sempre fui Beija-flor: É uma tradição de família, já que meus pais torciam por ela. Nunca desfilei, mas sempre tive muita vontade e vivo dizendo que, no dia em que isso acontecer, vou zerar a minha vida. É um dos meus maiores sonhos”.
Almir Reis explicou que o chamado feito pela Beija-flor a Robson tem como pano de fundo, além do carinho do motorista pela instituição, o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-flor”, que está sendo preparado para o próximo desfile. O tema, que está sendo desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada, é uma exaltação à intelectualidade negra e um grito contra o racismo estrutural, do qual Robson foi vítima no exterior.
“Quantos Robsons existem por aí, em todo o Brasil e no mundo? Acompanhamos a história dele pela imprensa, ficamos tocados e entendemos o quanto a história dele se cruza com a Beija-flor e com o nosso enredo. As portas estão abertas para ele que agora é parte da nossa família também”, disse o presidente.
De acordo com a Liga Independente das Escolas de Samba, em sorteio já realizado, a Beija-flor encerrará o domingo de Carnaval, como a sexta escola a desfilar pelo Grupo Especial. A data de realização dos desfiles está sob análise da entidade e pelas autoridades.