
Anunciado no início do mês, em meio às mobilizações contra o racismo que se espalharam pelo mundo, o enredo da Beija-flor de Nilópolis para o próximo Carnaval ganhou neste domingo (21), uma sinopse oficial. Elaborado coletivamente, o texto reúne contribuições de membros da comunidade e indica o caminho a ser seguido no desenvolvimento do tema, que vai exaltar a intelectualidade negra na Marquês de Sapucaí.
O lançamento, promovido por meio das redes sociais, envolveu ainda a divulgação da logomarca escolhida em um concurso para ilustrar o enredo.
“É uma honra estar na Beija-flor para viver esse momento. Fui arrebatado pelo tema. O enredo partiu do anseio da nossa comunidade e de todo o mundo do Carnaval de que escola siga levantando essa bandeira, que ela já permeia toda a sua história”, disse alexandre louzada.
O carnavalesco responsável pelo desenvolvimento do desfile completa:
“Sei que, nessa empreitada, tenho que empretecer meu pensamento. Isso envolve me colocar numa posição de humildade e estudar a melhor maneira de trabalhar”.
Grandes mentes pretas
A sinopse, disponibilizada em vídeo e texto na internet, foi elaborada pelo jornalista João Gustavo Melo. Enredista com quase 20 anos de experiência no Carnaval, ele já trabalhou na criação de mais de 40 enredos e está fazendo sua estreia junto a Beija-flor.
Na elaboração do texto, o profissional recebeu sugestões de integrantes da agremiação e as aprofundou com o apoio de referências bibliográficas que incluem obras de personalidades negras. Entre elas, estão a escritora Carolina Maria de Jesus; o jornalista e sociólogo Muniz Sodré; a filósofa e escritora Djamila Ribeiro; a jornalista e economista Flávia Oliveira e o cantor e compositor Emicida.
O resultado final da sinopse inclui ainda uma mensagem de abertura e um epílogo. Junto com a descrição textual do enredo, foi divulgada a logomarca escolhida entre mais de 100 opções criadas a pedido da escola por seus componentes e admiradores. A imagem conjuga as faces negras de um homem e de uma mulher. Rostos como os deles compõem 53,9% da população brasileira, autodeclarada preta e parda de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Inspirado no movimento afrofuturista, foram usados poucos elementos para este retrato: a transição, em rostos que se completam, entre o ancestral que nos negam e o futuro que nos impedem. Os pensadores angolanos sustentam um título de forma a remeter os pôsteres de apoio a Angela Davis (filósofa) no movimento antirracista americano. Sim, empretecer o pensamento é pensar como Angola, como a África; é enaltecer os seus, os nossos”, disse André Rodrigues, criador da peça artística ganhadora do concurso.
Devido à pandemia da COVID-19 e seus desdobramentos, o calendário de criação do próximo desfile tem sido remanejado pela escola para preservar a saúde de todos os seus apaixonados. Por isso, todo a elaboração e divulgação do enredo foram conduzidas virtualmente, respeitando medidas de distanciamento social. O mesmo cuidado ocorrerá em outras etapas do processo de construção do desfile, enquanto for necessário.